por Ricardo E. Machado Diretor do filme
Alguém precisa falar a verdade. Mesmo que doa, separe, explore. Alguém precisa apontar o dedo pra realidade. O rap é que nem o palavrão, é a verbalização do sentimento. É uma lingua comum, sem segregação, é ritmo e poesia, o ritmo da realidade. E aqui não tem pouca favela sem voz, aqui não existe ídolo da periferia e nem microfone apontado pro gueto. O nosso gueto é quieto, é submerso, é disfarçado. Não é tão pobre mas é vizinho do miserável, não é tão feio mas é o suficiente pra se deixar escondido. 300 favelas, ou menos ou mais, ou não. Mas sempre começa com uma, e a nossa pioneira é o Capanema. É ali que eu nasci, disfarçado de rebouças, e é ali que o Branco Favela mora. Um polaco pobre, com o dom do ritmo e da rima, um destaque na musicalidade do rap local. Branco é uma incógnita, mas é através de suas rimas que nós, moradores do asfalto, conseguimos ter a sensação mais próxima da realidade que é a vida no gueto. Que ali é 5 minutos do centro, e que as balas e as pedras voam, e os vários tipos de bichos pegam.
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